segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Uruguai: Mujica e Lacalle se enfrentarão no segundo turno

O ex-guerrilheiro José Mujica, da governista Frente Ampla, e o ex-presidente Luis Alberto Lacalle, do opositor Partido Nacional, disputarão o 2º turno nas eleições presidenciais do Uruguai. A informação foi confirmada nesta segunda (26) pela Corte Eleitoral. Mujica venceu a 1ª rodada do pleito, com 47,5% dos votos. Seu adversário obteve 28,5%. Para tentar barrar o claro favoritismo da Frente Ampla, as forças conservadoras estarão unidas no segundo turno, dia 29 de novembro.

Em terceiro lugar na disputa, com 16,7%, ficou Pedro Bordaberry, do Partido Colorado. Pablo Mieres, do Partido Independente, teve 2,4%. Foram às urnas 89,86% dos eleitores, um percentual considerado elevado.

Bordaberry, filho do ex-ditador Juan María Bordaberry (1973-1985), assegurou ainda ontem que convocaria seu partido sobre o segundo turno, mas que "pessoalmente" votará em Luis Alberto Lacalle. Nas eleições de 2004, a vitória de Tabaré Vázquez por estreita margem já no primeiro turno evitou a união dos dois partidos históricos, que existem desde a separação do Uruguai do Brasil, em 1828.

"Eu só posso agradecer muito ao gesto do doutor Bordaberry, que anunciou seu apoio sem condições por causa da nossa coincidência de valores e de ideias", disse Lacalle a jornalistas em seu comitê eleitoral no centro de Montevidéu.

Segundo turno sem ódio

Diante de uma diferença de poucos votos para definir a eleição no primeiro turno, Mujica fez um discurso conciliador, pedindo votos de todos os partidos naquilo que chamou de “plebiscito sem ódio” entre as gestões dos partidos tradicionais e a da Frente Ampla. "A sociedade exige de nós mais um esforço, de participar de um segundo turno. Trata-se de uma questão de fórmula política e assim vai continuar nesses próximos 30 dias", disse em entrevista a jornalistas.

Do lado de fora do hotel onde deu sua entrevista coletiva, Mujica era esperado por milhares de frenteamplistas que se dividiram sobre o resultado: uns se frustraram, pois queriam resolver tudo no primeiro turno, e outros consideraram a perspectiva justa para ampliar o apoio ao governo que virá. Em meio a gritos de "Si, se puede", inspirados no mote de campanha do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, eles passaram a noite nas ruas de Montevidéu pedindo votos no 2º turno.

"Ninguém nunca nos deu nada de presente. O impossível sempre custa um pouco mais. Agora não é pela bandeira tricolor. É por esta, do Uruguai", disse Mujica de um palanque onde esteve acompanhado de seu candidato a vice, o ex-ministro da Economia Danilo Astori. "Serão trinta dias de luta, mas não de ódio. Queremos que nosso povo pense não em partidos, mas no país."

Segundo Astori, a votação de domingo "indicou que nos dirigimos para a vitória, só que a vitória exige de nós um pouco mais." Pesquisas de intenção de voto para o segundo turno apontavam nova vitória de Mujica antes do sufrágio deste domingo, com cerca de 65% dos votos.

Mesmo com a união dos partidos conservadores, o ex-guerrilheiro tupamaro deve agora receber votantes de grupos à sua direita, dizem especialistas locais, uma vez que muitos uruguaios sem partido político preferido gostariam de manter o estilo da atual gestão, aprovada por 60% da população, em vez de voltar aos tempos de crise econômica do ex-presidente e agora rival de Mujica, Luis Alberto Lacalle.

Decepção

Os uruguaios rejeitaram, no plebiscito realizado junto à votação para presidente, a anulação da Lei de Caducidade, que deixou impunes os crimes de Estado cometidos pela ditadura uruguaia, reconheceu a chefe da campanha pelo fim da lei.

Num primeiro momento, os dados apontados por pesquisadoras de boca-de-urna pareciam dar a vitória do "sim" ao fim da impunidade para as violações de direitos humanos cometidos por policiais e militares a serviço da ditadura (1973-1985).

Mas, em seguida, Luis Puig, porta-voz da Coordenadoria pela Nulidade da Lei de Caducidade admitiu o fracasso. Ele reconheceu que o resultado freia a tentativa der julgar policiais e militares acusados de tortura, mas assinalou que "a luta pela verdade e pela justiça não termina nem se menospreza" com a negativa ao fim da Lei de Impunidade.

"O tema da memória e da justiça teve um grande apoio nos jovens uruguaios", disse Puig, também secretário de Direitos Humanos da principal central operária do Uruguai. Era preciso superar 50% dos votos emitidos para conseguir a nulidade da Lei de Caducidade, mas segundo as pesquisas manuseadas pela coordenadoria, não ultrapassaram 48%.

A Lei de Caducidade foi aprovada em 1986 no fim do regime cívico-militar (1973-1985) e já fora referendada em um primeiro plebiscito, em 1989. A anulação da Lei de Caducidade tinha se transformado em um motivo de disputa na campanha eleitoral, com acusações cruzadas de utilização eleitoreira de um assunto tão delicado.

Pesquisas também indicavam que o outro plebiscito realizado no domingo, para decidir se os uruguaios residentes em outros países podem votar pelo correio, também não teria sido aprovado.

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