quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ana Maria Prestes defende Rafael Corrêa, acusado de "neoliberal"

O presidente da Assembleia Legislativa do RS, deputado Ivar Pavan (PT), abriu a mesa "Elementos de uma Nova Agenda I - Bem Viver", que ocorreu hoje (27/1) pela manhã. O evento contou com a presença de representantes de diversos países, além da brasileira Ana Maria Prestes, representando a Oclae. Durante o debate, representante de movimento indígena equatoriano acusou o governo Rafael Corrêa de neoliberal, e Ana Maria defendeu o processo de eleição de governos progressistas na América Latina.

Luana Bonone

Ana Maria Prestes defendeu os governos progressistas da América Latina, após críticas contundentes do equatoriano Segundo Churuchumbi ao presidente Rafael Corrêa

Parte da programação do Seminário de Avaliação dos 10 Anos dos Fórum Social Mundial, a mesa de painelistas foi composta pelo professor Zraih Ab Der Kadel, representante do Forum des Alternatives du Maroc (Marrocos); Mercia Andrews, do Trust for Community Outreach and Education (África do Sul); sociólogo Marco Deriu, da Universidade de Parma (Itália); Ana Maria Prestes, da Organização Continental Latino-Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae); Segundo Churuchumbi, do movimento Ecuarunari (Confederación Kichwa del Ecuador); e Daniel Pasqual, coordenador do Comitê Via Campesina (Guatemala). A mediação da mesa ficou por conta do sindicalista Lélio Falcão, da Força Sindical.

Na abertura da discussão, o presidente do Parlamento gaúcho, deputado Ivar Pavan (PT), afirmou que o modelo de consumo norte-americano é insustentável. Um dos problemas resultantes é o desequilíbrio ambiental, destacou. Na visão de Pavan, o bem viver passa por uma sociedade focada na vida: “Uma sociedade focada na vida é uma sociedade democrática, equilibrada socialmente, diversa culturalmente e economicamente viável”.

FSM tem que propor pautas

A insustentabilidade do modo capitalista de produção, tanto econômica, quanto social e ambientalmente foi apontada por todos os painelistas. A sulafricana Mercia Andrews destacou ainda importância da superação da divisão social do trabalho existente entre homens e mulheres na construção de uma nova sociedade, que possibilite o "bem-viver".

Zraih Abderkadel falou sobre a crise de perspectiva das esquerdas após a queda do muro de Berlim e defendeu o Fórum Social Mundial como um espaço de diálogo para o desenvolvimento de um novo processo, para construir o novo mundo "que agora nos parece possível" e que teria por pilares os direitos humanos, a justiça social e a preservação da natureza. Para o marroquino, cabe ao Fórum estabelecer o que é prioritário e consensual, para que cada movimento, cada país, possa trabalhar a construção deste novo mundo possível a partir das discussões do FSM.

O representante de Marrocos ressaltou ainda que este debate de "bem-viver", ou de uma sociedade com condições dignas de vida é um debate novo, visto que o debate predominante na história do Marrocos foi a libertação do coloniaalismo estadunidense, inglês e francês. Já o equatoriano Segundo Churuchumbi, crítico de Rafael Corrêa, esclareceu que este termo vem da cultura indígena e é um tema milenar.

Em sua fala, Churuchumbi desferiu inúmeras críticas ao presidente do Equador, Rafael Corrêa, acusando-o de neoliberal, de querer privatizar as águas e de humilhar a população indígena do país.


Foto: Luana Bonone
Na sequencia: Ana Maria Prestes ao microfone, deputado Ivar Pavan, Lélio Falcão, Segundo Churuchumbi, Marco Deriu e Mercia Andrews
Assembleia dos movimentos sociais


A brasileira Ana Maria Prestes iniciou sua fala demarcando a importância, dentro do debate de 10 anos de FSM, de valorizar o aniversário de uma década também da assembleia dos movimentos sociais que se organiza a cada edição do Fórum. Ainda no âmbito da avaliação do fenômeno FSM, Ana Maria o valorizou como espaço que "tem a capacidade de fazer sobressair nas nossas discussões questões reprimidas secular, milenarmente" e deu como exemplos a própria discussão sobre "bem-viver", que na sua avaliação é resultado do sucesso do FSM ocorrido em Belém em 2009 e a grande participação de povos e organizações indígenas naquela edição. Outro exemplo citado pela estudante foi o debate sobre as castas, que ocorreu na edição 2004 do Fórum Social Mundial, na Índia.

Em contraponto às críticas apresentadas a Rafel Corrêa, Ana Maria disse que a América Latina vive uma situação especial e que a eleição de governos progressistas, que estabelecem uma relação diferenciada com os movimentos sociais, deve também entrar na avaliação dos 10 anos de FSM. E citou os governos da Bolívia, da Venezuela, do Brasil, do Uruguai, da Argentina e também o governo de Rafael Corrêa, no Equador. Para sustentar sua posição, argumentou que as próprias reformas constitucionais relizadas na Bolívia e também no Equador incorporam o conceito de bem viver no seu texto.

Ao final de sua intervenção, Ana Maria defendeu ainda que a sustentabilidade não pode se contrapor ao desenvolvimento, e concluiu que o desenvolvimento tecnológico e até industrial podem servir à emancipação ou ao aumento do grau de opressão, mas não são maléficos ouo benéficos à humanidade por si.

De Porto Alegre, Luana Bonone

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