Na tarde de ontem (04), a presidente Dilma Rousseff visitou o assentamento do MST Dorcelina Folador, no município de Arapongas (a 30 km de Londrina), para dialogar com os trabalhadores sobre a Reforma Agrária e participar da inauguração da Agroindústria de Leite da Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa (Copran).
A presidente foi recebida pelos dirigentes do MST João Pedro Stedile e Roberto Baggio e pela presidente da Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa (Copran), Dirlete Dellazeri. Os líderes entregaram a ela, uma carta contendo as reivindicações dos camponeses, e na qual criticam que pouco tem sido feito pela democratização da terra e cobram o assentamento de todas as famílias que estão acampadas, em condições de extrema pobreza.
Diante de cerca de seis mil pessoas, Dilma respondeu que seu governo vai avançar muito na Reforma Agrária, citou que nos últimos anos 19,5 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza, e até março há a estimativa que as demais famílias já cadastradas deixem também essa situação. Dilma disse que para os avanços acontecerem, pretende criar “uma classe média no campo”, que terá investimentos em infraestrutura de produção e serviços básicos para os moradores, entre eles, a construção de moradias por meio do programa Minha Casa Minha Vida, e educação para as crianças da zona rural.
A presidente destacou também o lançamento de editais para que pequenos produtores rurais enviem seus projetos e possam acessar, em cinco anos, R$ 300 milhões disponíveis para investimentos e mais R$ 300 milhões em crédito para que os produtos produzidos nas terras de reforma agrária possam ser processados, com verbas do BNDES, Banco do Brasil, Conab e outros parceiros.
Após o final do discurso, Dilma foi presenteada com uma cesta alimentícia, entregue pelas crianças do assentamento. Em seguida, tirou fotos com as crianças e os trabalhadores.
Leia abaixo a carta do MST à presidente:
Carta da Direção Nacional do MST à presidenta Dilma Rousseff
Arapongas/Paraná, 4 de fevereiro de 2013
Excelentíssima presidenta Dilma Rousseff,
A sua visita ao assentamento Dorcelina Folador, no município de Arapongas, na região de Londrina (PR), para a inauguração da agroindústria da Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa (Copran), é um reconhecimento da necessidade, importância e potencial da Reforma Agrária.
Os trabalhadores rurais estão fazendo muito pelo nosso país e podem fazer muito mais. Estamos muito longe do nosso potencial, que demanda uma ação forte, ampla e eficiente do Estado.
Em primeiro lugar, o governo precisa retomar a política de criação de assentamentos e fazer a Reforma Agrária. Muito pouco tem sido feito para democratizar a terra.
Em segundo lugar, os programas do governo para as famílias assentadas são conquistas importantes, no entanto, são muito burocráticos, não têm recursos suficientes tanto para cumprir seus fins como para a universalização.
Abaixo, apresentamos alguns pontos fundamentais para desenvolver o meio rural e combater a pobreza, fazendo a Reforma Agrária, agregando valor à produção dos assentados e gerando renda para melhorar a qualidade de vida do trabalhador rural.
1-Um programa emergencial para assentar todas as famílias que vivem acampadas, em situação de extrema pobreza, com a desapropriação imediata de latifúndios em todo o país. Só o nosso movimento organiza 90 mil famílias acampadas.
2-Garantir assistência técnica pública, programas de pesquisa e tecnologia para agropecuária.. Precisamos de uma empresa estatal de máquinas para a agricultura camponesa.
3-Política de crédito específica para as famílias assentadas, associada à produção agrícola diversificada e em bases agroecológicas e sem agrotóxicos e transgênicos, para promover uma agricultura sustentável. O Pronaf não atende as necessidades dos trabalhadores assentados.
4-Desenvolver políticas públicas para a cooperação agrícola, como mutirões, formas tradicionais de organização comunitária, associações e cooperativas, para aumentar a escala da produção.
5-Garantir a implementação de agroindústrias na forma cooperativa, sob controle dos agricultores e dos trabalhadores, para beneficiar os alimentos, agregar valor à produção e gerar renda, garantindo a oportunidades de trabalho para a juventude no meio rural.
6-Universalizar as políticas públicas de compra da produção de alimentos, de qualidade e saudáveis para atender a demanda dos municípios próximos dos assentamentos e as compras governamentais, para escolas e hospitais, fortalecendo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e os programas PNAE e PAA.
7-Universalizar o acesso à educação escolar de qualidade em todos os níveis, da creche à universidade e ensino técnico, com a construção e manutenção de escolas públicas e gratuitas, para aumentar o nível educacional dos assentados. Promover mutirão para erradicar o analfabetismo da população adulta.
8-Garantir a implementação do programa Minha Casa Minha Vida Rural, conforme sua determinação em abril de 2001 e até hoje não normatizada, para viabilizar a construção de moradias adequadas à cultura do meio rural.
9-Assentar as famílias sem-terra nos perímetros irrigados na região Nordeste, que serão beneficiadas com terra e acesso a água. Garantir abastecimento permanente de água potável nas comunidades rurais.
10-Fortalecer e universalizar o programa nacional para o desenvolvimento de técnicas de produção com base na agroecologia. Implementar um amplo programa de reflorestamento, para todas as áreas de Reforma Agrária, sob coordenação das mulheres, para recuperar as áreas degradadas e fontes de água destruídas pelo latifúndio.
Direção Nacional do MST
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