Depois de sete meses de uma crise política que mobilizou o continente e de quatro meses abrigado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya, deposto pelo golpe militar de 28 de junho, deixou o país nesta quinta-feira (28), em um avião rumo à República Dominicana. Os golpistas Antes de embarcar para o exílio, contudo, Zelaya prometeu: "Voltaremos, voltaremos".
Zelaya chegou à noite em Santo Domingo, com Xiomara, sua mulher, e Pichu, sua filha, poucas horas após o presidente eleito Porfírio "Pepe" Lobo tomar posse. Cerca de 10 mil zelaystas despediram-se dele numa base aérea ao lado do aeroporto de Tegucigalpa - mesmo local de onde ele foi enviado para a Costa Rica, após ser expulso do país por militares.Desta vez, a multidão de partidários, de punhos ao ar, cantou o hino quando o avião com o presidente deposto decolou. O presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, acompanhou Zelaya desde Tegucigalpa até o seu país. E o próprio Lobo levou o seu antecessor ao aeroporto.
Zelaya foi à República Dominicana como "hóspede especial". Não está claro, porém, por quanto tempo ele permanecerá no país. Ao chegar a Santo Domingo, ele foi recebido com honras militares e agradeceu ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ao chanceler brasileiro Celso Amorim e ao assessor presidencial Marco Aurélio Garcia pela proteção diplomática dada pelo Brasil.
Em seu discurso, Zelaya disse que ficou "129 dias prisioneiro" em seu país, mesmo "sendo presidente livre, eleito em eleições transparentes e honestas". Ele também acusou o governo golpista de Roberto Micheletti, "pelo não cumprimento do acordo de San José", que previa o estabelecimento de um governo de conciliação.
Com a voz embargada e com a mulher Xiomara aos prantos, ele se mostrou simpático a Lobo, mas ressaltou que "a vontade que ele demonstrou para solucionar os problemas de Honduras" terão agora de se tornar realidade.
Zelaya saudou o "gesto de solidariedade" do presidente dominicano, Leonel Fernandez. "Nossa posição é pacífica, é uma posição de democratas", afirmou ele, sem dar pistas sobre seu futuro político. "O presidente Zelaya é um símbolo da democracia latino-americana", enalteceu Fernandez, que assistiu à posse de Lobo em Tegucigalpa.
O presidnete deposto, que seguiu imediatamente para o complexo turístico de La Romana, 110 km a leste de Santo Domingo, já avisou ao seu anfitrião dominicano que após alguns dias deve seguir para o México, onde assumirá uma cadeira no Parlamento Centro-americano.
Resistência
Com a promessa de "seguir na luta", milhares de hondurenhos marcharam ontem da Universidade Pedagógica de Tegucigalpa até a região do aeroporto de Toncontín. A marcha foi a maior mobilização popular desde setembro, quando Zelaya voltou escondido a Honduras e buscou refúgio na embaixada brasileira.
No trajeto pela capital, manifestantes empunhavam bandeiras vermelhas com o rosto de Zelaya ao estilo Che Guevara e caricaturas do presidente de facto, Roberto Micheletti, como um gorila. Caminhavam entoando músicas que, durante os oito meses de protestos, tornaram-se uma espécie de trilha sonora zelaysta.
"Ele vai voltar, isso é certeza", dizia a empresária Miriam Mejía, que calcula já ter participado de pelo menos 50 manifestações em apoio a Zelaya. Na véspera de sua saída, o líder deposto já afirmara que "um dia volta" a Honduras.
Convocada pela Frente Nacional de Resistência (FNR), o principal grupo de apoio a Zelaya, a marcha teve participação de sindicatos e organizações populares, mas pessoas da classe média de Tegucigalpa também aderiram à passeata. Acompanhada de sua mãe e avó, Marília Alvarado, estudante de 15 anos, disse que estava na marcha para denunciar "a arbitrariedade e o desrespeito à Constituição".
Diferentemente das manifestações que sucederam ao retorno do deposto, a de ontem não teve episódios de violência entre membros da FNR e forças de segurança. Policiais olhavam de longe os opositores e organizavam o trânsito. Na multidão, a vice-chanceler de Zelaya, Beatriz Valle, declarou que os zelaystas continuarão a não reconhecer o governo de Porfírio "Pepe" Lobo.
"A luta do povo, a luta da resistência, se transferirá agora rumo à tomada do poder", declarou o coordenador da frente, Juan Barahona, ao jornal hondurenho El Tiempo.
À exceção do Canal 36, que apoia abertamente Zelaya, as TVs hondurenhas ignoraram a manifestação para transmitir a íntegra da cerimônia de posse ao vivo. Quando o carro da emissora pró-Zelaya, conduzido pelo âncora da TV, chegou ao protesto e começou a buzinar para pedir licença aos manifestantes, foi recebido com festa: "Está aí a última voz do povo", gritou um integrante da marcha.
Reconciliação
Manuel Zelaya foi beneficiado por um salvo-conduto concedido por Porfirio Lobo, em acordo com o presidente da República Dominicana, que aceitou abrigá-lo. Ontem, ao assumir o cargo, Lobo sancionou a anistia aos golpistas, recém-aprovada pelo Congresso, e defendeu que o país precisa de um grande processo de “reconciliação”.
Para o sindicalista e ex-deputado Víctor Cubas, um dos líderes da frente de resistência, o movimento "concorda que deve haver conciliação, mas não perdão aos golpistas". "Temos de fazer com que a lei chegue a todos e não seja aplicada somente aos pobres", defendeu, citado pelo El Tiempo.
Desde o início da tarde desta quarta, dezenas de jornalistas aguardavam Zelaya na frente da embaixada. O presidente deposto acordou às 11 horas e recebeu a visita de sua mãe, Hortensia, com quem almoçou às 14 horas. O clima na embaixada era calmo, garantem testemunhas.
Zelaya saiu por volta das 16 horas da missão em um comboio de cerca de dez carros, seguido de dez seguranças em motocicletas. Foi montado um forte esquema de segurança, que incluiu ambulâncias e carros com soldados armados. Antes de partir, ele recebeu na missão brasileira Lobo e o presidente Leonel Fernández.
Veja abaixo um vídeo com a saída de Zelaya de Honduras:
Com agências
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